Existem diferentes livros cristãos que ficaram de fora da Bíblia, embora fossem consideradas sacras escrituras durante o período em que a Igreja ainda não existia como estrutura (e muito menos como Instituição), eram mencionadas e respeitadas em várias comunidades cristãs, durante o período que e sucedeu as perseguições contra os cristãos, ao longo de três séculos de História. Todavia, quando as perseguições findaram e os seguidores de Cristo puderam “respirar aliviados”, a paz não somente foi estabelecida para os cristãos, como o Estado Romano estava propenso a adotar a filosofia pregada por Jesus de Nazaré como Religião Legal do Império (mais tarde se tornando Oficial). É a partir daí que começará nosso artigo.
No Canon da Igreja, o conjunto dos textos tidos como “inspirados”, isto é, os quatro evangelhos do Novo Testamento (Mateus, Marcos, Lucas, e João) já travavam uma discussão doutrinária entre os séculos 2 a 5, pois de fora ficaram mais de 60 outros escritos, que receberam o nome de apócrifos, que em grego significa oculto. Sobre estes escritos, pairavam acusações de deturpação a doutrina de Cristo, misturando-a com episódios fantásticos e idéias tiradas das seitas místicas dos primeiros séculos da Cristandade. Entretanto, para muitos cristãos com imaginação, estes receberam os escritos de braços abertos. São graças exatamente a estes escritos que sabemos os nomes dos três Reis Magos (Gasphar, Melchior e Baltazar), o nome dos dois ladrões crucificados ao lado de Jesus (Dimas e Gestas), os nomes dos pais de Maria (Joaquim e Ana), e o corpo de Nossa Senhora subir aos céus após a sua morte, fato este que a Igreja Católica considera como dogma desde 1950. Parece algo que paradoxal, já que o catolicismo proibiu os apócrifos, mas que por vias indiretas, conseguiram driblar a esta proibição
Muitos destes apócrifos são epístolas, coletânea de frases, narrativas da criação e profecias apocalípticas, além dos que abordam a própria vida de Jesus ou de seus seguidores, cerca de 50 outros contém narrativas ligadas ao Antigo Testamento. Entretanto, são aqueles que são diretamente ligados a Jesus que atraem a atenção de estudiosos e religiosos, que os reconhecem como fontes de vital importância para estudar um dos personagens mais enigmáticos da Humanidade.
“Estas são palavras ocultas que Jesus vivo pronunciou e que Judas Tomé Dídimo transcreveu”. Assim começa o Evangelho de Tomé, coletânea de ditos do fim do século I ou princípio do Século II atribuídos a Jesus e que só recentemente veio a Tona. Muito embora sta obra seja mencionada por escritores eclesiásticos dos séculos II e IV e fragmentos de um texto grego possivelmente original recolhidos no século XIX, uma versão completa só se tornou disponível em 1945, após uma descoberta ocasional. Neste ano, foi encontrado preservada num vaso selado perto de Nag Hamadi, no Egito, uma biblioteca gnóstica em pergaminho, traduzidos em copta. Guardados numa ânfora do Século IV estavam papiros com 52 textos diferentes, e um destes foi o Evangelho de Tomé.
O EVANGELHO APÓCRIFO DE TOMÉ foi redigido no Egito, provavelmente na metade do Século I d.C. Os pesquisadores consideram algumas de suas sentenças mais autênticas do que as que equivalem os evangelhos canônicos.
Eis uma das visões censuradas deste apócrifo:
“Jesus disse: Se seus líderes lhes dizem ‘vejam, o reino está no céu’, então os pássaros do céu precederão. Se lhes dizem ‘esta no mar’ então o peixe os precederá. Antes, o reino esta dentro de vocês e esta fora de vocês. Quando se conhecerem, então serão conhecidos e compreenderão que são filhos do Pai vivo. Mas se não se conhecem, então vivem na pobreza e são a pobreza. Sou tudo: de mim saiu tudo e a mim chegou tudo. Dividam um pedaço de madeira e eu aí estou. Ergam uma pedra e aí me encontrarão.”
Os manuscritos, hoje conhecidos como Evangelhos Gnósticos, ou Apócrifos (Apocryphom literalmente livro secreto), revelam ensinamentos, apresentados segundo perspectivas bastante diversas daquelas dos Evangelhos Oficiais da Igreja Romana; como por exemplo este trecho atribuído a Jesus, O Vivo: "Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá."
Com o passar dos séculos, o termo Apócrifo foi ganhando outros significados. Na antiguidade, designava obras de uso exclusivo de seitas ou escolhas iniciáticas de mistério. Mais tarde adquiriu o significado de livro de origem duvidosa, ou, segundo o Médio Dicionário Aurélio: “Diz-se obra ou fato sem autenticidade, ou cuja autenticidade não se provou.”
Além dos Evangelhos (ensinamentos atribuídos a Jesus Cristo através de seus apóstolos) outros textos compõe o legado de Nag Hammadi, de cunho teológico e filosófico.
Os papiros encontrados em Nag Hammadi, tinham cerca de 1.500 anos, e eram traduções em copta de manuscritos ainda mais antigos feitos em grego e na língua do Novo Testamento, como constatou-se, ao verificar que parte destes manuscritos tinham sido encontrados em outros locais, como por exemplo alguns fragmentos do chamado Evangelho de Tomé. As datas dos textos originais estão estimadas entre os anos 50 e 180, pois em 180, Irineu o bispo ortodoxo de Lyon, declarou que os hereges "dizem possuir mais evangelhos do que os que realmente existem".
Acredita-se que os manuscritos foram enterrados por volta do século IV, quando na época da conversão do imperador Constantino, os bispos cristãos, passaram ao poder e desencadearam uma campanha contra as heresias. Então, algum monge do mosteiro de São Pacômio, nas cercanias de Nag Hammadi, tomou os livros proibidos e os escondeu no pote de barro, onde permaneceram enterrados por 1.600 anos. O estilo de Tomé se assemelha aos da chamada fonte Q, isto é, uma coletânea de frases de Jesus que se acredita ter sido fonte para os textos canônicos.
Nos dias de hoje, pesquisadores respeitados como o teólogo alemão Helmut Koester, da Universidade de Harvard, e John Dominic Crossan (foto), da Universidade de St Paul, de Chicago, afirmam que os apócrifos são fundamentais para se conhecer a doutrina e a pessoa de Cristo. Para estes pesquisadores, o Evangelho mais importante é o de Tomé.
Nos primeiros 80 anos do Cristianismo, as comunidades cristãs já tinham várias visões diferentes de Jesus, mas conviviam simultaneamente. Somente três séculos mais tarde, quando a Igreja já estava estabelecida, é que os primeiros líderes começaram a analisar umas como ortodoxas e outras como heréticas. No entanto, é mister que os estudiosos vejam nestes escritos importantes ferramentas para recuperar algo desta diversidade de pensamento sobre Jesus de Nazaré.
É possível que Jesus tivesse mais do que 12 discípulos que o seguiam. Após sua morte, estes seguidores se espalham e formam grupos, onde transmitem o que testemunharam. Obviamente, não eram estes seguidores “gravadores humanos”, pois não se limitavam em repetir. Tais seguidores se dividiam em grupos, que apresentavam a doutrina de Jesus, cada qual, de forma um pouco diferente. Somente após algumas décadas dos eventos que se sucederam a vida de Cristo, é que as comunidades escreveram suas memórias, e foi daí que surgiram os Evangelhos.
Os diversos pontos de vista sobre o Cristo original existem nos próprios canônicos, isto é, os Evangelhos aceitos pela Igreja. Por exemplo: em Mateus, Jesus é equiparado a Moisés, com discursos prolongados e que cujas as ações cumprem as profecias das sacras escrituras.
Marcos já mostra Jesus como uma personalidade muito ativa, fazendo milagres e entrando em conflito com o Império Romano.
Lucas retrata Jesus como um mestre misericordioso e sensível aos dramas humanos.
Já João aprofunda mais os elementos espirituais, místicos. Se tal variedade do perfil de Cristo é encontrada apenas olhando para os evangelhos oficiais da Igreja, imaginemos o quadro que surge para focalizarmos as dezenas de apócrifos existentes.
Entretanto, é mister perguntar: Quais as crenças destas comunidades que futuramente os concílios canônicos iriam retirar da doutrina?
Os Principais evangelhos apócrifos são:
1- O EVANGELHO DE TOMÉ (Segunda metade do Século I)
2- O EVANGELHO SEGUNDO OS HEBREUS (Fim do Século I)
3- PROTO-EVANGELHO DE TIAGO (Século 2)
4- EVANGELHO DE MARIA MADALENA (Século 2)
5- EVANGELHO DE PEDRO (Século 2)
6- EVANGELHO SEGUNDO OS EGÍPCIOS (Século 2)
7- EVANGELHOS DE FILIPE (Séculos 2 a 3)
8- EVANGELHO DE ANDRÉ (Séculos 2 a 3)
9- EVANGELHO DE BARTOLOMEU (Séculos 2 a 3)
10-EVANGELHO DE JUDAS (Séculos 2 a 3)
O Evangelho de Maria Madalena, por exemplo, retrata Jesus revelador de ensinamentos divinos. O de Tomé preservou o lado anti-romano e místico. O Evangelho de Tiago, irmão de Jesus, cuja comunidade foi abafada, retrata um Cristo mais revolucionário. Havia então comunidades que seguiam estes evangelhos, mas outra corrente também estava surgindo, e já não era vista com bons olhos por parte de outros cristãos mesmo antes da Instituição da Igreja: O Gnosticismo.
A Acusação de “contaminação gnóstica” foi um dos argumentos mais usados pelos bispos da Igreja antiga para impedir que textos de conteúdo gnóstico entrassem no Canon. Estes mesmos textos foram usados durante três séculos por algumas comunidades cristãs antigas em suas liturgias, durante o período que se sucedeu as perseguições contra os cristãos.
O Termo Gnose significa “Sabedoria” em grego, e designava um grande conjunto de seitas que existiram no início da Era Cristã e atingiram seu ápice no século II. Eles acreditavam que o corpo de Jesus era imaterial, e que o Reino de Deus não era um Céu como morada para os bons e justos, mas que ele existia dentro de cada indivíduo, e alcançá-lo não dependeria de seguir um Mestre. Avessos a qualquer tipo de hierarquia, conduziam seus rituais fazendo rodízios entre os membros, de modo também que cada um cumpria as funções de bispo, outro, as de diácono, e assim sucessivamente, o que impedia a concentração de poderes.
E o mais interessante disso tudo: as mulheres tinham plena credibilidade no espaço e elas mesmas atuavam como sacerdotisas e líderes. Deus era descrito como uma mãe divina. O evangelho de Madalena nem sequer afirma que existe pecado no sentido moral do termo, e muito menos, Pecado Original. Aliás, este sequer é mencionado também nos 4 evangelhos canônicos, pois Jesus nunca falou sobre Pecado Original.
No Evangelho de Maria Madalena, ela diz a Pedro que o Mestre lhe revelou que “não há pecado”. Segundo a doutrina gnóstica, somos nós que fazemos existir o pecado quando agimos conforme a nossa natureza idolátrica.
Entre os cristãos havia muitas discussões sobre o pecado, e mais tarde com a instituição da Igreja é que ganhou força total a idéia do Pecado Original. Infelizmente, a Igreja acentuou muito a questão moral e se esqueceu do social. Madalena em seu evangelho ajuda a relativizar essa visão e a buscar a harmonia interior que cada um pode desenvolver dentro de si, com o Deus que esta dentro de nós.
O evangelho de Madalena diz que esta era uma das discípulas favoritas de Jesus e que ele a beijava nos lábios, que de acordo com o simbolismo judaico, significava TRANSMISSÃO DE CONHECIMENTO.
Logo, vemos com base nos escritos gnósticos e apócrifos uma visão no que seria a doutrina cristã: Um cristianismo sem pecado moral e original, Igreja com poder descentralizado e sem hierarquia, e uma visão feminina de Deus e um Jesus que beijava sua discípula. A história da Igreja poderia ter sido diferente caso alguns destes elementos tivessem sido incorporados no catolicismo. Entretanto, para a HISTÓRIA, como ciência humana, não existem “se”.
Uma explicação bastante plausível do por que as doutrinas gnósticas ficaram de fora da doutrina católica tem como base as próprias perseguições contra os cristãos, ao longo de 300 anos de História. As perseguições levaram as comunidades cristãs a procurarem unificar sua doutrina. Por conta, veio a divisão entre o canônico e o apócrifo, e a exclusão das influencias gnósticas.
No Século I d.C, as comunidades cristãs foram intensamente perseguidas pelo Império Romano, pois afinal, uma religião que tinha um homem crucificado como ícone de veneração era considerada subversiva.
Nero, que governou de 54 a 68, foi acusado de provocar grandes incêndios em Roma, e quando se viu encurralado pelo povo, jogou a culpa nos cristãos, que mandou perseguir e martirizá-los. Parte dos condenados foi destroçada em espetáculos no circo romano. Outros foram queimados vivos. Como evento circense, após o combate dos gladiadores, o martírio dos cristãos era uma alternativa mais barata que a primeira, pois nas arenas, os cristãos eram espancados, chicoteados, torturados, e devorados por leões.
Um retrato pungente que o escritor prêmio nobel de literatura Henryk Sienkiewicz (1846-1916) apresentou em seu romance histórico “Quo Vadis?", escrito em 1896. Logo, seguiu-se décadas de perseguições, processos e mortes, embora tal processo não se seguiu sistematicamente, pois houve poucos imperadores que toleravam os cristãos.
Alguns, bem poucos, escapavam da morte, pois renegavam na hora sua fé, cometendo assim apostasia. Mas a coragem de muitos Dos mártires impressionavam até mesmo seus algozes. A escritora americana Elaine Pagels (foto), em seu livro “Os Evangelhos Gnósticos”, escreve:
“Pressionados por um perigo comum, os membros de grupos cristãos dispersos pelo mundo cada vez mais mantinham correspondência entre si e viajavam de uma idade a outra. As Perseguições deram ímpeto para a formação da estrutura que havia surgido nas igrejas ao final do século II”.
Entretanto, a ameaça do martírio fez com que alguns bispos passassem a ver na morte e ressurreição de Jesus um elemento central de seus ensinamentos. É neles que vem toda a inspiração dos cristãos, dos chamados mártires sublimes da Cristandade que a Igreja Católica os santificou e os elevou para seus altares, quando foram forçados pelo Poder Romano a escolher entre a fé e a morte cruel e dolorosa.
Preso e martirizado no século I, o Bispo Inácio de Antioquia escreveu à sua comunidade que não tentassem ajudá-lo: “deixem que me sobrevenha à cruz, o fogo, que as feras me despedacem, para que eu possa alcançar Jesus Cristo”. O grego Hipólito escreveu em 202 que Jesus “ofereceu sua própria Humanidade para que vocês, quando sofrerem tribulações, não desanimem”.
Mas as perseguições findaram, pois logo o Império Romano compreendeu que precisava se aliar aos cristãos, ou seja, apócrifa ou incerta seria a história do Imperador Constantino ver uma cruz no céu com os dizeres: “com este símbolo, vencerás”. Logo, muito mais plausível que Constantino tivesse um ponto de vista que fez com que os cristãos viessem para seu lado, pois afinal, foi por obra do Império que ocorreu a expansão do Cristianismo, que ganhou a marca registrada de Roma.
Foi por volta do ano 327 d.C, que Constantino, a partir do Concílio de Nicéia, copilou as principais tendências religiosas existente nos três primeiros, fazendo nascer daí o cristianismo tal como conhecemos, quando foram escolhidos os textos para comporem a Bíblia, tendo ficado de fora, ao que se sabe, pelo menos 60 evangelhos cristãos.
A decisão de Constantino foi mais política que religiosa, pois ele sabia que, copilando as principais vertentes religiosas da época, acabaria por unir todo império romano, que se encontrava por demais dividido, situação que vinha pondo em risco o seu poder imperial.
Assim, da corrente religiosa que tinha Mitra como deus pagão, foi inspirada a idéia da morte em sacrifício e da ressurreição ao terceiro dia, tal como era contada a história de Mitra. Da vertente religiosa que tinha Isis como deusa, Constantino e o Concílio de Nicéia retiraram a idéia da virgem Maria e a idealização da família sagrada (José, Maria e Jesus). Essa família, tal como idealizada, tem sido claramente contestada por historiadores das religiões, uma vez que segundo ele, José possuía filhos de seu primeiro casamento e também acabou tendo outros filhos com Maria, além de Jesus.
E os outros evangelhos apócrifos? Que destinos lhes foram dados? Sabe-se que ocorreu verdadeira caça às bruxas. Muitos foram queimados ou perdidos por se oporem frontalmente às bases do cristianismo colocadas na Bíblia. O decreto Gelasiano assinado pelo Papa Gelásio (Reprodução), falecido em 496, continha uma lista de sessenta livros apócrifos do Segundo Testamento, que deveriam ser evitados pelos cristãos. Mais da metade deles foi parar, infelizmente, na fogueira. Daí a importância de se encontrar os evangelhos como o de Maria Madalena e o de Judas, resguardados, trariam, por fim, luz para a Humanidade que até então os desconheciam.
Jesus era um anti-romano, um revolucionário, e isto é claro no evangelho de Tomé, e até mesmo no canônico de Mateus. Mas não tardou, e os textos canônicos receberam arranjos posteriores e se tornaram pró-Roma. Exemplo: Paulo de Tarso faz questão de afirmar que é cidadão romano, e termina sua pregação quando o Evangelho chega a Roma. Mas já a comunidade de Tiago, fixada em Jerusalém, era mais próxima ao Jesus revolucionário, entretanto os textos desta comunidade não vingaram.
Os Evangelhos Canônicos, oficiais do cânone romano, tiveram sua origem na TRADIÇÃO ORAL sobre Jesus, ou seja: Mateus, Lucas, e possivelmente Marcos podem igualmente ter utilizado uma coletânea especial das suas palavras, ao passo que os Apócrifos ampliaram bastante as versões canônicas. Nos primeiros dias da Igreja, a tradição oral tinha com freqüência mais prestígio que qualquer escrito. Mas quando as Epístolas e os Evangelhos começaram a circular, a palavra falada continuava poderosa.
É importante frisar que os autores do Novo Testamento escreveram em primeiro lugar não para a posteridade, mas para as comunidades contemporâneas, no intuito de instruir, inspirar, resolver um problema ou repreender. Os escritos sobre a vida de Jesus chamam-se Evangelhos porque relatam a “boa nova” dos ensinamentos da vida, morte e Ressurreição de Cristo. Do grego evangelion, “boa nova” através do latim evangelium. É quase certo que existiram versões escri5tas das tradições referentes à vida e doutrina de Cristo antes dos Evangelhos e Epístolas, mas nenhuma dessas versões chegou até nós.
OS GNÓSTICOS, no entanto, afirmavam que o corpo de Cristo era espiritual, e que ele não sofrera durante a crucificação. Logo, o martírio era sem valor. O texto gnóstico Testemunho da Verdade diz que “são mártires fúteis pensando: ‘se nos entregarmos à morte por amor ao Nome, seremos salvos’. Mas essas questões não são resolvidas dessa maneira”. Para a Gnose, só se salvará quem encontrasse Deus dentro de si. Alguns estudiosos afirmam que os gnósticos queriam fazer do Cristianismo uma religião sem perigos e riscos. Mesmo assim, a Igreja reconhece que um de seus evangelhos oficiais, o de João, tem influencias gnósticas, e isto fez com que o relato demorasse décadas para ser incorporado ao Cânone.
Mas elementos dos apócrifos são usados pela própria Igreja. Estes elementos não se encontram em nenhuma fonte do Novo Testamento, e a Igreja ainda assim os adotou em sua tradição e até mesmo em seus dogmas, apesar do Vaticano considerar os textos apócrifos sem nenhum valor teológico. São nestes, e não nos oficiais e canônicos, que estão relatados:
1-A INFÃNCIA DE MARIA
2-O CASAMENTO DE MARIA E JOSÉ
3-A PRESENÇA DE UM BOI E UM ASNO DURANTE O NASCIMENTO DE JESUS
4-O NOME DOS REIS MAGOS (GASPAR, MELCHIOR, E BALTAZAR)
5-A VIRGINDADE DE MARIA ANTES, DURANTE, E DEPOIS DO NASCIMENTO DE CRISTO
6-OS NOMES DOS LADRÕES QUE FORAM CRUCIFICADOS AO LADO DE JESUS (DIMAS E GESTAS)
Um é o da Perpétua Virgindade de Maria (“antes, durante, e depois do parto”), proclamado em 1854. O outro é o da Assunção de Maria, “em corpo e alma, à Glória Celeste”, tal como afirmava também um dos escritos de Nichéphoro, um dos primeiros comentaristas da Igreja primitiva.
Muitos peritos vêem tais relatos com desconfiança. Hoje, é consenso que, em comparação com o total de textos apócrifos conhecidos, os que podem conter informações fidedignas sobre o Jesus histórico e o início do Cristianismo são poucos, pois a grande maioria foi escrita para atender á curiosidade popular por detalhes sobre Jesus e sua família.
No século XIII, algumas histórias apócrifas foram reunidas no livro “A Lenda Áurea”, do Monge Jacop de Voragine, que fez imenso sucesso na Europa Ocidental (pode-se dizer que é um dos mais antigos Best-Sellers da História. Vide artigo sobre a “Lenda Áurea já publicada neste blog, em grandarcanum.blogspot.com/.../legenda-urea.html ).
Mas retornando a concentração dos evangelhos gnósticos sobre o papel da mulher na celebração dos rituais, bem como o perfil delas nas comunidades. Maria, a mãe de Jesus, por exemplo, não é vista como uma intercessora. Madalena jamais foi prostituta, mas sim uma apóstola e mulher amada por Jesus, que desempenhava forte liderança após a morte de Jesus.
No apócrifo Pistis Sofia, ela aparece o tempo todo conversando com Jesus e dando explicações sábias dos ensinamentos do Mestre. O Evangelho de Filipe diz que Jesus amava Maria Madalena mais que a todos os discípulos, e a beijava na boca freqüentemente, e os discípulos tinham ciúme deste amor. Como já foi aqui dito, o beijo no sentido semita tem conotação de “comunicação”, de “transmissão”, de transmitir e comunicar o espírito, o saber, o conhecimento.
PISTIS SOFIA trata de ensinamentos secretos que Jesus supostamente teria transmitido aos seus discípulos antes da ressurreição. Acompanhem um trecho excluído:
“Quando Jesus levantou-se entre os mortos, passou 11 anos falando com seus discípulos. Então Jesus ascendeu ou elevou-se ao alto, e eles (os discípulos) viram Jesus descer, brilhando mais forte ainda. Então Jesus, o compassivo, disse-lhes:”Regozijai-vos e alegrai-vos a partir deste momento, pois fui para lugares que havia vindo(...) autoridade me foi dada, por intermédio do Inefável e do Primeiro Mistério de todos os mistérios, para falar-vos desde o Princípio até a Plenitude”.
Qual seria então o pecado de Maria Madalena? Foi o saber demais? E se o beijo fosse um beijo mesmo, que haveria de mal?
O fato que a Igreja fez de Maria Madalena uma prostituta para se contrapor à Maria, mãe de Jesus. A primeira passou pela História como a pecadora penitente, e a segunda, como virgem toda pura e imaculada, ou seja, ambas são arquétipos da fé, e minimizando Madalena como prostituta também minimizou seu papel de liderança. No início do Cristianismo, havia ciúmes e disputas entre os seguidores de Jesus. Ora, se nos próprios evangelhos canônicos, Pedro é o líder máximo, nos apócrifos ele é descrito como invejoso e misógino.
Em Pistis Sofia, Pedro pede a Jesus que expulse Madalena do grupo, porque ela fala demais e não deixa os outros falarem. Mais adiante, é ela que reclama com Jesus que Pedro esta sempre à frente e que ele detesta o sexo feminino. No evangelho de Tomé, Jesus chega a dizer ironicamente a Pedro que transformaria Madalena em homem para que ela pudesse entrar no Reino.
O ano de 2006 surpreendeu a todos os cristãos com a divulgação para todo o planeta, pela emissora de televisão a cabo “National Geographic”, do evangelho segundo Judas, após ter este ficado desaparecido por cerca de 1700 anos. A sua existência já havia sido confirmada, historicamente, por Irineu, primeiro bispo de Lyon, na metade do século II, quando o denunciou por heresias.
Contendo 26 páginas em papiro, transcrito de um texto ainda mais antigo, o evangelho está escrito em dialeto copta (Egito antigo); tendo sido autenticado depois de rigorosos testes, por especialistas, como sendo oriundo do século III. Acredita-se que o Evangelho foi copiado por volta de 300 d.C. e encadernado em couro, ficando desaparecido desde então. Em 1970 foi descoberto no deserto egípcio de El Minya.
Passado nas mãos de diversos vendedores de antiguidades, acabou chegando à Europa, e, mais tarde, aos Estados Unidos, permanecendo no cofre de um banco de Long Island por cerca de 16 anos, o que levou a sua deterioração em cerca de trinta por cento. Em 2000, foi comprado por um antiquário suíço, que preocupado com a sua deterioração, entregou-o, em fevereiro de 2001, à fundação suíça Maecenas Foundation for Anciente Art, com o objetivo de que ele fosse devidamente preservado e traduzido. Após a restauração, a análise e tradução ficaram a cargo do professor Rudolf Kasser, da Universidade de Genebra.
Contestando a versão dos quatro Evangelhos bíblicos, o de Judas evidencia que não houve traição dele a Jesus como propalado, mas que, a atitude de Judas de entregá-Lo aos Romanos foi em decorrência de pedido feito pelo próprio Jesus. Judas deveria agir dessa forma para que o espírito de Jesus fosse libertado da vestimenta corpórea.
Bem possível que acerca das grandes polêmicas, os apócrifos trazem grandes revelações para estudiosos e curiosos. Mas tais escritos devem ser analisados sob a ótica da coerência e investigação, e assim como os evangelhos oficiais da Igreja, também não devem ser vistos, cada palavra, em teor literal. Muito embora alguns possam trazer uma imagem bem diferente do Jesus canônico, com disposição para idéias mais abertas e liberais (o que seria até simpático), em contraste com o Jesus oficial dos quatro evangelhos canônicos, os apócrifos não devem superar os textos reconhecidos pelos cristãos. Mas admitamos que são muito importantes, e que possivelmente os rumos do Cristianismo seriam bem diferente caso os textos "não inspirados divinamente" fossem incluídos e reconhecidos pela Santa Sé.
Por Paulo Néry
Composicao maravilhosa,
ResponderExcluirEugenio Pacelli
e-mail: tomroma@ig.com.br
Parabens que página maravilhosa a de vcs!Não parem nunca.Bem esplicativa,com belas imagens.
ResponderExcluirSe vcs tiverem alguns materiais,por favor,me enviem,eu lhes agradeceria do fundo do meu coração.Manormando Francisco de Mello.Itápolis Est.S.P.Rua Pedro Paulo Rosário Gentili 61,Jardim Paulistano.Cep.14.900-000
ollemodnan.46@gmail.com